sexta-feira, 1 de março de 2013

Arquivo Público recebe acervo sobre movimento separatista no Norte do Estado


Foto: Carla Caliman
Nas décadas de 1930 e 1940 Espírito Santo e Minas Gerais empreenderam uma disputa territorial na Serra de Aimorés. No local os ânimos ficaram acirrados e, nessas terras consideradas “sem lei”, as relações entre grileiros, posseiros e fazendeiros resultaram em episódios violentos. Surge então Udelino Alves de Matos, figura envolvida na religiosidade e no misticismo, que idealizou a criação de um novo Estado abrangendo terras das cidades capixabas de Montanha, Pinheiros, Ecoporanga, Água Doce do Norte e Mucurici e mineiras de Carlos Chagas, Nanuque, Mantena e Ataleia. Denominado de “União Estado de Jeovah” chegou a ter secretariado, bandeira, sede e hino. Ele foi desmantelado por uma ação policial, em 1953.

Documentos sobre esse episódio foram doados ao Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES) pelo jornalista Adilson Vilaça e podem ser pesquisados na sede da Instituição, à Rua Sete de Setembro, no Centro de Vitória. O acervo refere-se a uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada para averiguação dos fatos.

Revolta do Cotaxé

Udelino Alves de Matos era procedente de Alagoinha, na Bahia. Ao chegar à região contestada empregou-se como professor em uma fazenda. Segundo Adilson Vilaça, no livro “Cotaxé: a reinvenção de Canudos”, Udelino era “(...) bem-falante e socorria-se na bíblia para difundir ensinamentos aos desbravadores da terra ainda indomada”. Em suas viagens à Bahia costumava carrear posseiros para o trabalho no local. Conforme afirma: “O rapaz eloqüente, enquanto distribuía lotes e apostolava, vislumbrou a ocasião de constituir um estado independente no território”. 

Vilaça explica que a região começou a atrair muitos colonos e teve um crescimento populacional vertiginoso. Porém, a dupla jurisdição trouxe uma marca: a violência ascendente. Diante da situação, relata o autor: “Udelino não tardou em descobrir que havia uma só língua para unificar milhares e milhares de deserdados: o dialeto da terra”. Com isso, angariou recursos e esteve na capital do Brasil, o Rio de Janeiro, para solicitar a oficialização do “Estado União de Jeovah”. Cotaxé - distrito de Ecoporanga -foi escolhido como capital.

Foto: Carla Caliman
Diante da situação os governos do Espírito Santo e de Minas Gerais, sob a representação de Jones dos Santos Neves e Juscelino Kubitschek, reagiram energicamente contra 866 homens armados de Udelino. O “Estado União de Jeovah” ruiu e o paradeiro do líder continua um mistério. Em 1963 foi acertada a partilha das terras, encerrando o período de conflitos. 

Adilson Vilaça destaca que as suas pesquisas pretendem resgatar uma história envolvida em esquecimento. “A doação dos documentos ao APEES possibilita tornar público o acervo e a realização de novos estudos”. Vilaça ressalta que ainda existem no Norte do Estado marcas culturais relativas aos fatos, como a comemoração, feita no distrito de “Prata dos Baianos”, em Ecoporanga, que relembra, no dia de São João, a “roubada da bandeira”.

Informações à Imprensa:

Arquivo Público do Estado do Espírito Santo
Jória Motta Scolforo
3636-6100
joriascolforo@gmail.com

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